A crescente preocupação com as mudanças climáticas revela efeitos adversos em várias áreas. Quer exemplo mais triste do que a tragédia que assola o Rio Grande do Sul? Mas, todas estas alterações também afetam uma área que muita gente sequer imaginava: a aviação. Aliás, a turbulência severa em um voo da Singapore Airlines trouxe esse problema à tona. Por não ser a única nos meses recentes, traz à tona um fenômeno que se torna cada vez mais comum nos céus.
Lembrando a turbulência da Singapore Airlines
Antes de tudo, vamos recapitular o incidente? No último dia 20 de maio, um voo da Singapore Airlines que ia de Londres para Singapura enfrentou uma turbulência severa. Só para ilustrar a gravidade, resultou na morte de um passageiro de 73 anos e ferimentos em mais de 70 pessoas.
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Inicialmente, o avião sofreu uma queda súbita de mais de 1.800 metros, lançando passageiros e objetos contra o teto da cabine. Esse evento, raro para a companhia aérea, que não registrava um incidente fatal em 24 anos, levantou importantes questões sobre a relação entre turbulência e mudanças climáticas.
Ocorre que, pouco menos de uma semana depois, no dia 26 de maio, outro incidente, ainda que de menor intensidade, voltou a preocupar as autoridades da aviação civil. Desta vez, um voo da Qatar Airways de Doha para Dublin precisou fazer um pouso de emergência após sofrer uma turbulência grave. Felizmente, não houve vítimas fatais, mas 12 pessoas ficaram feridas.
O que causa a turbulência em aviões?
Tanto a turbulência da Singapore Airlines quanto a da Qatar estão sob investigação. Mas, de modo geral, a maioria dos voos enfrenta algum grau de turbulência. E isso se dá por diversos fatores, por exemplo:
- Ventos fortes: perto do solo, ventos fortes ao redor dos aeroportos podem causar turbulência durante a decolagem e o pouso.
- Tempestades: em altitudes mais elevadas, tempestades com fluxos de ar ascendentes e descendentes podem gerar turbulência.
- Cadeias de montanhas: o ar que se move para cima sobre montanhas pode criar turbulência ao levantar o avião.
- Correntes de jato: fortes correntes de ar que circulam o globo podem causar turbulência severa, especialmente nas bordas dessas correntes.
- Turbulência em ar claro: esse tipo de turbulência ocorre fora das nuvens e pode ser particularmente difícil de prever.
A princípio, as aeronaves são projetadas para suportar esse tipo de incidente, portanto, as chances de resultarem em um acidente fatal são mínimas. No entanto, o que preocupa é o aumento dessas ocorrências.
O que as mudanças climáticas têm a ver com as turbulências?
De fato, há estudos que indicam que as mudanças climáticas estão tornando as turbulências mais frequentes e severas. E isso abrange seus diferentes tipos. Paul Williams, da Universidade de Reading, por exemplo, explica que a turbulência em ar claro, em particular, aumentou significativamente desde 1979.
Além disso, sobre o Atlântico Norte, a frequência de turbulência severa aumentou 55%. Ao que tudo indica, trata-se de um reflexo do fortalecimento das correntes de jato devido ao aquecimento global. Segundo a Scientific American, por exemplo, pesquisas apontam que a turbulência severa tende a aumentar mais do que os níveis leves ou moderados do evento.
Um estudo de Williams e seus colegas prevê que, à medida que o clima continua a aquecer, a frequência de turbulência em ar claro também deve aumentar. Jung-Hoon Kim, da Universidade Nacional de Seul, corrobora esses achados, indicando que a turbulência ao redor de nuvens e montanhas também se tornará mais frequente.
Mas, dá para prever (e prevenir) turbulências como da Singapore Airlines?
Como vimos, há diferentes fatores que causam a turbulência. E, ainda que muitas vezes surjam de formas inesperadas, os pilotos usam projeções meteorológicas e dados de radar para planejar rotas de voo. Assim, podem evitar áreas de turbulência.
No entanto, nem sempre o radar convencional detecta turbulência em ar claro, o que representa um desafio expressivo. Ao mesmo tempo, outras ferramentas auxiliam nas previsões. Por exemplo:
Tecnologia LiDAR
Uma solução é a tecnologia LiDAR que, em resumo, utiliza um comprimento de onda diferente para detectar turbulência em ar claro. Embora atualmente cara e volumosa, avanços na miniaturização e redução de custos podem torná-la uma ferramenta padrão no futuro.
Principalmente porque essa tecnologia consegue detectar turbulência a até 20 milhas à frente da aeronave, oferecendo uma margem de segurança significativa.
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Medidas de segurança para passageiros
Enquanto a tecnologia LiDAR não se torna amplamente disponível, nós, enquanto pessoas passageiras, podemos fazer nossa parte. Por exemplo, mantendo os cintos de segurança afivelados durante o voo.
No caso da turbulência da Singapore Airlines, muitas pessoas foram arremessadas justamente por estarem sem o cinto. Isso mostra que essa simples precaução pode prevenir ferimentos graves em casos de turbulência inesperada.
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