Um estudo da Universidade da Califórnia, San Diego, publicado recentemente na revista *Biological Psychiatry*, trouxe novas informações sobre como a meditação mindfulness consegue aliviar a dor por meio de mecanismos neurais distintos daqueles envolvidos no conhecido efeito placebo. A pesquisa mostra que a meditação mindfulness altera padrões específicos do cérebro associados à percepção da dor. Isso tem o potencial de abrir caminho para novas estratégias de controle da dor sem o uso de medicamentos.
O que é a meditação mindfulness?
Antes de mais nada, é importante entendermos o que é a meditação mindfulness. Também conhecida como atenção plena, é uma prática que envolve estar completamente presente e consciente no momento, observando pensamentos, emoções e sensações físicas sem julgamento.
O objetivo é manter o foco no presente, buscando reconhecer o que ocorre interna e externamente, mas sem reagir a esses estímulos de maneira automática ou emocional.
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Durante a prática de mindfulness, é comum usar a respiração como um ponto de foco, voltando a atenção para a respiração sempre que a mente divaga.
É válido destacar que o Mindfulness pode ser praticado em sessões formais de meditação, mas também pode ser integrado às atividades cotidianas, como comer, caminhar ou realizar tarefas simples, mantendo a mente consciente e focada naquilo que está sendo feito no momento.
Visão geral do estudo
Bem, a dor é um fenômeno complexo, influenciado tanto por sensações físicas quanto por fatores psicológicos, como expectativas e mentalidade. Nesse contexto, o efeito placebo, em que uma pessoa experimenta alívio dos sintomas a partir de um tratamento inativo, é um exemplo de como as expectativas podem modelar a percepção da dor. No entanto, até recentemente, não estava claro se a meditação mindfulness funcionava aproveitando esse efeito ou não.
Por essa razão, a equipe da UC San Diego, liderada pelo Dr. Fadel Zeidan, buscou determinar se a meditação mindfulness compartilha os mesmos caminhos neurológicos que a resposta ao placebo. Para isso, o estudo utilizou técnicas avançadas de imagem cerebral para analisar como esse tipo de meditação impacta a dor, comparando-a com um creme placebo e uma prática de meditação falsa (sham-mindfulness).
Principais descobertas do estudo
O estudo envolveu 115 participantes saudáveis divididos em quatro grupos. Cada grupo passou por diferentes intervenções: meditação mindfulness guiada, meditação sham (apenas respiração profunda, sem os princípios da atenção plena), creme placebo e uma condição de controle onde os participantes ouviam um audiolivro.
Enquanto isso, um estímulo térmico foi aplicado à perna de cada participante para induzir dor. Ao mesmo tempo, a atividade cerebral era monitorada usando uma técnica chamada análise de padrões multivariados (MVPA), baseada em aprendizado de máquina.
Os resultados mostraram que a meditação mindfulness foi significativamente mais eficaz na redução da intensidade e da sensação desagradável da dor do que tanto o placebo quanto a meditação sham. As varreduras cerebrais revelaram que a meditação mindfulness reduziu a atividade em áreas do cérebro associadas à dor e emoções negativas. Já o creme placebo apenas afetou regiões cerebrais ligadas às expectativas de alívio da dor.
“Ao separar a dor da própria identidade e abandonar o julgamento avaliativo, a meditação mindfulness modifica diretamente nossa experiência da dor sem a necessidade de medicamentos”, explicou o Dr. Zeidan.
Os resultados sugerem que a meditação mindfulness ativa caminhos neurais distintos daqueles do efeito placebo, o que a torna potencialmente uma ferramenta poderosa no manejo da dor.
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Implicações para o controle da dor
As implicações deste estudo são amplas, especialmente para indivíduos que vivem com dor crônica. As estratégias tradicionais de controle da dor muitas vezes dependem de medicamentos, que podem ter efeitos colaterais e risco de dependência. Por outro lado, a meditação mindfulness oferece uma alternativa sem uso de medicamentos, acessível e que pode ser praticada em qualquer lugar.
Assim, o estudo revela o potencial da meditação mindfulness como uma possível intervenção nas estratégias de controle da dor, especialmente por superar os efeitos do placebo na redução da dor. No entanto, mais pesquisas são necessárias para testar esses achados em pessoas com dor crônica, em vez de participantes saudáveis.
“Estamos animados para continuar explorando como a mindfulness pode ser integrada nos ambientes clínicos para ajudar milhões de pessoas que vivem com dor crônica”, concluiu o Dr. Zeidan.
Referência:
Zeidan, F., Riegner, G., Dean, J., & Wager, T. (2024). Mindfulness meditation and placebo modulate distinct multivariate neural signatures to reduce pain. Biological Psychiatry. [DOI: 10.1016/j.biopsych.2024.08.023] (disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.biopsych.2024.08.023)
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