Quem vê a Antártida, com sua vasta camada de gelo que se estende por milhões de quilômetros quadrados, pode não imaginar, mas ela não foi sempre congelada. Há cerca de 34 milhões de anos, durante o final do período Eoceno, o continente sul iniciou sua transição para o que conhecemos hoje: um território praticamente inóspito e congelado.
Esse período, inclusive, foi a última vez que a Antártida esteve livre de gelo, segundo os registros geológicos.
Formação do gelo na Antártida
Durante o Eoceno, o clima terrestre era muito mais quente, e a concentração de dióxido de carbono (CO₂) estava entre 1.000 e 2.000 partes por milhão, um nível bem superior ao atual.
Eric Wolff, paleoclimatologista da Universidade de Cambridge, explica que o continente era, nesse período, mais semelhante ao norte do Canadá: com tundras e algumas florestas de coníferas.
LEIA MAIS: Além de Armstrong e Aldrin: Quantas pessoas já andaram na Lua?
Porém, a drástica queda de temperatura começou há aproximadamente 50 milhões de anos e se intensificou ao longo dos 16 milhões de anos seguintes, atingindo seu ponto mais frio por volta de 34 milhões de anos atrás.
Especialistas identificam dois fatores principais que levaram ao congelamento da Antártida: a redução das concentrações de CO₂ e mudanças nas placas tectônicas.
Essas mudanças geológicas abriram o que conhecemos hoje como Passagem de Drake, entre a América do Sul e a Antártida. Essa abertura criou uma corrente oceânica ao redor da Antártida que isolou o continente, dificultando a chegada de ar quente e mantendo a região em uma bolha climática gelada.
Como é feita a estimativa de períodos de gelo e degelo?
Para obter informações e pistas sobre a temperatura e a formação de gelo ao longo dos milênios, os pesquisadores analisam isótopos de oxigênio em fósseis de criaturas marinhas. Em épocas de maior gelo, os oceanos contêm uma proporção maior de oxigênio-18, pois o oxigênio-16, mais leve, fica preso no gelo continental.
Aqui, essa análise foi importante para determinar a transição para uma Antártida coberta de gelo, e Eric Wolff destaca que essa “assinatura química” é uma das provas mais confiáveis da transformação.
Consequência de uma Antártida sem gelo atualmente
A possibilidade de que a Antártida possa voltar a ficar sem gelo traz consigo um leque de possíveis desdobramentos globais.
“O planeta já ficou sem gelo na Antártida antes, e ele pode fazer isso de novo”, ressalta Tina van de Flierdt, do Imperial College de Londres.
Isso teria um impacto devastador para o nível dos oceanos, fauna e flora, e para o clima global. Uma Antártida sem gelo, por exemplo, adicionaria cerca de 60 metros ao nível dos oceanos. Isso é o suficiente para submergir cidades costeiras ao redor do mundo, de Nova York a Xangai, ameaçando a vida e os meios de subsistência de milhões de pessoas.
LEIA TAMBÉM: Por que o continente africano está se dividindo em dois? Entenda!
Além disso, o degelo massivo liberaria grandes quantidades de carbono aprisionado, o que possivelmente agravaria ainda mais o aquecimento global.
Van de Flierdt pontua que, embora seja improvável que a atividade humana cause o derretimento total, as mudanças climáticas atuais já aceleram o derretimento parcial, e “está em nossas mãos evitar o pior cenário”.
As mudanças climáticas atuais, impulsionadas principalmente pela atividade humana, podem acelerar o degelo na Antártida. A quantidade crescente de CO₂ e de outros gases de efeito estufa na atmosfera contribui para um aquecimento global que desafia os padrões climáticos anteriores.
Ainda segundo especialistas, o aumento da temperatura global já está causando a redução das geleiras e da plataforma de gelo antártica. Nese contexto, estudos indicam que a estabilidade da camada de gelo depende diretamente de ações para mitigar a emissão de gases de efeito estufa.
0 comentários