A crosta terrestre está longe de ser uma estrutura sólida e fixa. Na realidade, ela é composta por uma série de placas tectônicas que se movem lentamente, dando forma a superfície do planeta. Inclusive, esse processo está em andamento na África, onde uma divisão tectônica pode, eventualmente, separar o continente em duas massas de terra.
O Sistema de Rifte da África Oriental: o início da separação
O ponto central do processo de divisão da África é o Sistema de Rifte da África Oriental (EARS, na sigla em inglês). Esse sistema de falhas geológicas é uma das maiores fendas terrestres e se estende por aproximadamente 3.000 quilômetros, cruzando países como Etiópia, Quênia, Tanzânia, Uganda e Moçambique.
De acordo com especialistas, o EARS é a principal força motriz que empurra a Placa Somaliana para longe da Placa Núbia, dando início à formação de uma nova bacia oceânica.
O geólogo Christopher Moore, da Universidade de Leeds, explica que “a força das placas tectônicas é imensa e ininterrupta. Ao longo de milhões de anos, essas forças são capazes de moldar até mesmo os maiores continentes”.
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Importante destacar, no entanto, que o movimento das placas sob o continente africano está ocorrendo em uma velocidade muito baixa – cerca de 2,5 centímetros por ano –, mas os efeitos acumulados ao longo de milhões de anos são substanciais.
A formação de um novo oceano
O Rifte da África Oriental tem um detalhe interessante, já que representa um estágio inicial do mesmo processo que levou à formação do Oceano Atlântico, que separa a América do Sul da África. Assim, quando essa divisão finalmente ocorrer, é esperado que um vasto oceano se forme onde hoje é a região do Vale do Rifte.
A pesquisadora Lucía Pérez Díaz, da Royal Holloway University of London, explicou ao The Conversation: “Esse processo é semelhante ao que separou a África e a América do Sul, mas leva dezenas de milhões de anos. No caso da África Oriental, as placas tectônicas estão se afastando lentamente, e é um processo que provavelmente nunca veremos concluído”.
Por que esse processo demora tanto?
A separação da África Oriental é um processo extremamente lento. Estima-se, por exemplo, que a divisão completa do continente levará de 50 a 100 milhões de anos. Esse intervalo de tempo é tão longo que, provavelmente, nenhuma espécie existente hoje testemunhará a formação desse novo oceano.
A lentidão é resultado das forças envolvidas: embora as placas tectônicas estejam em movimento constante, a resistência e o atrito entre elas fazem com que o processo seja gradual.
O geofísico James Dolan explica que “o processo de ruptura tectônica é gradual e requer o acúmulo e liberação de grandes quantidades de energia. As pressões e tensões precisam atingir um ponto crítico para que o continente se fragmente”.
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Evidências da separação: o que já observamos
Ainda que se trate de um processo lento, os sinais de separação já são visíveis na superfície terrestre. Em 2018, por exemplo, uma grande rachadura no Vale do Rifte do Quênia chamou a atenção mundial. Essa fissura impressionante se estendeu por quilômetros e levantou questionamentos sobre a velocidade e os efeitos da divisão africana.
No entanto, embora muitos especialistas afirmem que essa rachadura pode ter sido causada pela erosão do solo, sua presença no Rifte reforça a ideia de que as forças geológicas estão transformando a região.
Além disso, o EARS está associado a atividade sísmica constante e ao surgimento de vulcões, como o Monte Nyiragongo, na República Democrática do Congo. Esses fenômenos também são evidências da movimentação tectônica sob a África Oriental e indicam que a crosta terrestre na região está enfraquecendo, o que facilita a separação das placas.
A paleontóloga Sarah Johnson, do Museu Americano de História Natural, aponta que “há um padrão de movimento que reflete a forma como o interior da Terra age, e isso se repete ao longo de bilhões de anos. A separação da África será apenas mais uma peça no quebra-cabeça da evolução do planeta”.
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