O uso de dispositivos como smartphones e tablets tornou-se uma prática comum entre os pais para acalmar seus filhos em momentos de crise. No entanto, um novo estudo sugere que essa prática pode ter consequências duradouras no desenvolvimento emocional das crianças. Vamos entender os resultados dessa pesquisa e as implicações do uso excessivo de dispositivos digitais para a saúde emocional infantil.
Objetivo do estudo
Pesquisadores da Universidade Eötvös Loránd e da Université de Sherbrooke conduziram um estudo com 265 famílias canadenses, acompanhando crianças em idade pré-escolar durante um ano. Para isso, os pais preencheram questionários em dois momentos diferentes:
- Avaliação inicial (T1): feita no início (em 2020), quando as crianças tinham uma idade média de 3,5 anos;
- Acompanhamento (T2): feita um ano depois (em 2021), quando as crianças alcançaram uma idade média de 4,5 anos.
Os pesquisadores se concentraram em avaliar a frequência com que os pais utilizavam dispositivos digitais (como tablets e smartphones) para acalmar as crianças em situações de frustração ou irritação, além de observar como essas práticas afetaram a evolução das habilidades de autorregulação e o controle de esforço das crianças.
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Autorregulação: uma habilidade essencial para as crianças
A autorregulação é a capacidade de administrar as próprias emoções, controlar impulsos e direcionar a atenção. Essas habilidades são fundamentais para o sucesso escolar e a vida em sociedade, e a primeira infância é considerada um momento crítico para seu desenvolvimento.
O estudo analisou três aspectos específicos da autorregulação: controle da raiva, controle esforçado (capacidade de uma criança inibir uma resposta automática em favor de uma deliberada) e impulsividade.
Crianças com habilidades de autorregulação bem desenvolvidas são mais capazes de focar em tarefas, lidar com frustrações e navegar em situações sociais.
Consequências do uso excessivo de dispositivos
Os resultados do estudo são preocupantes. Crianças cujos pais frequentemente utilizavam dispositivos digitais para acalmá-las mostraram dificuldades expressivas em controlar a raiva e apresentaram níveis mais baixos de controle de esforço após um ano. Isso sugere que o uso de dispositivos digitais para acalmar as crianças pode impedir que elas aprendam a gerenciar suas emoções adequadamente.
Além disso, o estudo descobriu que crianças com dificuldades iniciais em controlar a raiva eram mais propensas a ter pais que usavam dispositivos digitais para regulação emocional. Cria-se então um ciclo vicioso no qual o comportamento difícil das crianças leva a uma maior dependência de dispositivos digitais, o que, por sua vez, piora as habilidades de autorregulação.
Alternativas ao uso de dispositivos digitais
Diante desses achados, é importante que os pais considerem estratégias alternativas para ajudar seus filhos a aprenderem a lidar com suas emoções. Existem diversas práticas com amparo científico que auxiliam no desenvolvimento da autorregulação da criança. Algumas delas são:
Atividades físicas regulares
Exercícios físicos, como caminhar, brincar ao ar livre e praticar esportes, são meios eficazes para a regulação emocional, pois ajudam a liberar o excesso de energia e reduzem o estresse. A atividade física também está associada ao aumento de neurotransmissores que promovem o bem-estar, como a serotonina.
Técnicas de respiração e mindfulness
Práticas de respiração profunda e exercícios de mindfulness ajudam as crianças a desenvolver a atenção plena e a calma. Essas técnicas incentivam as crianças a se concentrar no momento presente, reduzindo a ansiedade e promovendo a regulação emocional.
Exposição gradual a desafios
Permitir que as crianças enfrentem desafios apropriados para sua idade e lidem com pequenas frustrações ajuda a desenvolver resiliência. Em vez de evitarem situações difíceis, elas aprendem a lidar com elas de forma gradual.
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Técnicas de resolução de problemas
Ensinar habilidades de resolução de problemas às crianças as ajuda a analisar a situação que está causando frustração e a pensar em soluções possíveis, promovendo a independência emocional e a confiança em sua capacidade de resolver conflitos.
Histórias e jogos didáticos sobre emoções
Livros e jogos que abordam temas emocionais podem ensinar as crianças a entender e nomear diferentes sentimentos. Isso torna mais fácil para elas reconhecerem suas emoções e as dos outros, o que ajuda a desenvolver a empatia e o controle emocional.
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