Chimpanzés podem ter conversas tão caóticas quanto as humanas, diz estudo!

Respostas rápidas, interrupções e diferenças regionais podem ser características comuns aos primatas

por Luciana Gomides
| Em 25/07/2024 às 16:45

Para nos comunicarmos de forma eficaz, utilizamos diversos gestos, já percebeu? Além disso, alteramos a velocidade e até o tom da fala. Basta ouvir a confusão de vozes em um ônibus, por exemplo. No entanto, não somos os únicos no reino animal a fazer isso. Segundo observações de um estudo publicado no periódico Current Biology, a comunicação dos chimpanzés tem padrões bem similares aos nossos. Por exemplo, eles também têm o que chamamos de turnos rápidos na fala e, às vezes, até mesmo se interrompem!

Em um comunicado, a coautora do estudo e primatóloga da Universidade de St Andrews, Catherine Hobaiter, explica que as línguas humanas são incrivelmente diversas. Contudo, uma característica que todos compartilhamos são as conversas estruturadas com turnos rápidos. Estes turnos duram apenas 200 milissegundos, em média. Mas, até pouquíssimo tempo atrás, se isso era exclusivamente humano ou se outros animais adotavam essa estrutura era uma questão em aberto. Bom, já não é mais!

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Estudo revela padrões na comunicação dos chimpanzés

Ok, mas o que exatamente diz a pesquisa? A princípio, a equipe coletou dados sobre as “conversas” dos chimpanzés em cinco comunidades selvagens na África Oriental. O conjunto de informações representou mais de 8.500 gestos de 252 chimpanzés individuais.

Em seguida, os pesquisadores usaram um software especializado para medir o tempo dos padrões conversacionais de troca de turnos. 14% das interações comunicativas incluíram uma troca de gestos entre duas interações individuais. Na maioria delas, houve uma troca de duas partes, mas algumas incluíram até sete.

Conforme Gal Badihi, coautor do estudo e doutorando da Universidade de St Andrews, o tempo de gestos na comunicação dos chimpanzés e a troca de turnos nas conversas humanas são similares e muito rápidos. Isso, inicialmente, sugere que mecanismos evolutivos semelhantes impulsionam essas interações sociais e comunicativas.

No geral, os pesquisadores observaram um tempo semelhante ao das conversas humanas. Ou seja, pausas curtas entre um gesto e a resposta gestual de cerca de 120 milissegundos. De modo geral, houve uma pequena variação entre diferentes comunidades de chimpanzés. O que isso significa?

Novamente, corresponde ao que vemos nas pessoas, uma vez que há variações culturais sutis no ritmo das conversas. Em outras palavras, algumas culturas têm falantes mais lentos ou mais rápidos. Usando um exemplo dado por Hobaiter, nos humanos, os dinamarqueses geralmente são os ‘respondedores’ mais lentos. Enquanto isso, nos chimpanzés orientais, é a comunidade Sonso, em Uganda.

O que isso implica para a evolução da comunicação?

Essa conexão entre a comunicação face a face de humanos e chimpanzés indica algumas regras subjacentes na própria comunicação dos primatas. A equipe observa que essas estruturas podem remontar a um mecanismo de comunicação em um ancestral comum.

Dito de outra maneira, chimpanzés e humanos podem ter chegado a estratégias de comunicação semelhantes para melhorar suas interações coordenadas. Além disso, gerenciar a competição pelo “espaço” comunicativo. As descobertas também sugerem que nossa comunicação pode não ser tão única quanto pensávamos.

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Badihi reforça que outras espécies sociais não precisam de linguagem para se envolver em trocas comunicativas de curta distância com tempo de resposta rápido. Sendo assim, as conversas humanas podem compartilhar uma história evolutiva ou trajetórias semelhantes aos sistemas de comunicação de outras espécies. Ou seja, esse tipo de comunicação não é exclusivo dos humanos, mas disseminado em animais sociais.

Contudo, o estudo não deve parar por aí, pois a equipe pensa em explorar por que os chimpanzés têm conversas desde o início. O grupo acredita que os chimpanzés frequentemente dependem de gestos para pedir algo a outro da mesma espécie.

Ainda conforme os pesquisadores, não se sabe quando essas estruturas conversacionais evoluíram ou por quê. Para responder a essa questão, é necessário explorar a comunicação em espécies mais distantemente relacionadas. Daí, é possível determinar se essas são características dos símios ou se as compartilhamos com outras espécies altamente sociais, como elefantes ou corvos.

  • Luciana Gomides

    Jornalista e assessora de comunicação e imprensa com experiência em Comunicação Pública, Gestão de Eventos, Marketing Digital, análise e estratégia, gerenciamento de crises, produção e redação de conteúdo. Já trabalhou em diversos projetos e segmentos na área, inclusive como gerente de Comunicação na Educação Municipal, período em que desenvolveu produtos audiovisuais para permitir o acesso a conteúdos pedagógicos durante a pandemia. Ainda, criou áreas de Ouvidoria e Eventos Virtuais. É pesquisadora de Comunicação Compartilhada/Comunitária, Marketing Público e Políticas Públicas para Comunicação. Atuou na área de turismo e hotelaria. Especialista em Marketing e Assessoria de Comunicação.

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