Todo mundo, em algum momento, já se perguntou como os antigos egípcios conseguiram construir estruturas tão impressionantes quanto as pirâmides. Afinal, tratam-se de construções complexas feitas há milhares de anos e em condições totalmente adversas. A princípio, tudo partiu de um conhecimento profundo e avançado dos sistemas hidráulicos. Ao menos, é o que indica a Pirâmide Djoser, até agora, a mais antiga de uma das civilizações mais fascinantes da humanidade.
De fato, passamos anos com todos os tipos de teorias e especulações sobre como os egípcios ergueram as pirâmides. Isso vai desde seu alinhamento até o transporte das imensas pedras e a descoberta de um antigo canal. Agora, um grupo de pesquisadores parece ter encontrado a explicação de como foi construída a primeira pirâmide do Egito.
Sobre a Pirâmide Djoser
A pirâmide de Saqqara é uma das estruturas mais antigas do Egito, cuja construção ocorreu durante o reinado do faraó Djoser da Terceira Dinastia. Só para ilustrar, isso foi por volta de 2670 a.C. Na época, o projeto foi desenvolvido pelo arquiteto Imhotep. Por tudo isso, o monumento é um registro histórico, pois foi a primeira pirâmide construída e o primeiro grande edifício de pedra em larga escala no mundo.
A princípio, a concepção mirava uma mastaba, ou seja, um tipo de túmulo. No entanto, a pirâmide passou por várias fases até atingir sua forma final com seis níveis escalonados, alcançando uma altura de aproximadamente 60 a 62 metros. Além de servir como tumba do faraó, representou um avanço nas técnicas de construção e desenvolvimento do complexo funerário ao seu redor.
Até recentemente, a teoria predominante sugeria que o transporte dos pesados blocos de pedra se deu com o uso de rolos. Ademais, acrediava-se que se usava rampas para levá-los aos níveis superiores. Porém, os métodos para erguer essa estrutura parecem ser um pouco diferentes, conforme descobertas mais recentes.
O papel da água na construção
Tudo começa no Gisr el-Mudir, conhecido como o Grande Recinto, onde ficam algumas das estruturas de pedra mais antigas do Egito. Segundo a pesquisa de Landreau, Piton, Morin e Bartout, as bacias hidrográficas próximas à pirâmide revelam características de uma barragem de contenção. Assim, deveriam reter sedimentos e água.
Ainda, a topografia além da barragem sugere a existência de um lago efêmero a oeste do complexo de Djoser. Além disso, há sinais de um fluxo de água dentro do fosso que o circunda. Os pesquisadores afirmam que, na seção sul desse fosso, há uma estrutura monumental linear escavada na rocha, composta por compartimentos sucessivos e profundos.
A princípio, essa estrutura atende aos requisitos técnicos de uma instalação de tratamento de água:
- um tanque de sedimentação
- um tanque de retenção
- sistema de purificação
Com base nessas descobertas, a proposta é de que o Gisr el-Mudir e a seção sul do fosso funcionavam como um sistema hidráulico unificado. Inicialmente, o objetivo era regular o fluxo e melhorar a qualidade da água. Além disso, a arquitetura interna da Pirâmide Djoser sugere a presença de um mecanismo de elevação hidráulica, algo sem paralelo até então.
Onde entra o sistema hidráulico nisso? Os autores acreditam que os arquitetos levantaram as pedras do centro da pirâmide utilizando a água livre de sedimentos da seção sul do Fosso Seco. Para efeitos de comparação, isso funcionou de maneira semelhante a um vulcão.
Algo que, de certa forma, não surpreende. Afinal, os antigos egípcios tinham grande domínio da hidráulica, tendo utilizado canais para irrigação e barcaças para transportar enormes pedras. Logo, o estudo abre uma nova linha de pesquisa sobre o uso da força da água também na construção das estruturas faraônicas.Um estudo exaustivo
Para chegar à hipótese, os pesquisadores realizaram uma análise detalhada de imagens de satélite de alta resolução. Além disso, utilizaram modelos digitais de elevação com tecnologia avançada de SIG (Sistema de Informação Geográfica). Isso permitiu identificar o impacto da rede paleohidrológica de Abusir no projeto de construção de Zoser.
De modo geral, a metodologia ofereceu uma representação visual de como os antigos egípcios exploraram a paisagem natural para seus objetivos arquitetônicos. Além disso, realizaram modelagens numéricas para examinar o consumo de água, ciclos de elevação e enchimento do poço durante a construção da pirâmide.
Os resultados indicaram que elevar as primeiras camadas da pirâmide exigia significativamente menos água. Pelo menos, em comparação com as camadas de altura média, devido ao ganho de elevação inicial limitado.
Só para ilustrar, a construção de uma pirâmide até sua altura final de 62,5 metros requereria um volume mínimo de 18 Mm³. Isso corresponde a 0,6-0,9 Mm³/ano durante um período de 20-30 anos. Esses valores fornecem apenas uma estimativa inicial, sem contar as perdas de água causadas pela infiltração e outros fatores.