Quase dois séculos após a morte de Ludwig van Beethoven, a ciência moderna atendeu a um pedido que o compositor fez em vida: entender as condições de saúde que acompanharam sua existência e, possivelmente, contribuíram para sua morte precoce. Para isso, um estudo, publicado em 2023, analisou o DNA de mechas de cabelo atribuídas ao gênio alemão, revelando respostas para questões antigas e trazendo à tona novas descobertas.
Os problemas de saúde de Beethoven
Beethoven enfrentou uma série de desafios médicos ao longo da vida. Sua perda auditiva progressiva, por exemplo, começou em torno dos 25 anos e o levou à surdez funcional aos 45. Esse declínio foi agravado por sintomas como zumbidos e intolerância a sons altos, e encerrou sua carreira como músico performático, embora não tenha diminuído sua criatividade.
Além disso, relatos indicam que o compositor sofreu de dores abdominais severas e crises de diarreia desde os 22 anos, seguidas por sinais de doença hepática em seus últimos anos de vida.
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Em seu testamento, Beethoven expressou o desejo de que a humanidade entendesse seus problemas médicos, especialmente a surdez, como um meio de aliviar o sofrimento de outros.
Descobertas da análise de DNA
A análise foi conduzida por uma equipe internacional, que utilizou cinco mechas de cabelo consideradas genuínas. De acordo com Johannes Krause, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, o objetivo principal era esclarecer as condições de saúde de Beethoven, especialmente a surdez.
Embora o estudo não tenha identificado uma causa genética para a perda auditiva ou para os problemas gastrointestinais, ele trouxe uma descoberta importante: evidências de infecção por hepatite B. O vírus, provavelmente contraído meses ou anos antes de sua morte, combinado com o consumo de álcool e outros fatores de risco, foi apontado como a principal causa de seu falecimento.
Essa revelação contradiz teorias anteriores que sugeriam envenenamento por chumbo como o motivo de sua morte. Essas antigas teorias foram reafirmadas por um estudo de 2007 que analisou uma mecha agora confirmada como sendo de outra pessoa.
Segredos de família
Outro aspecto curioso do estudo foi a análise do cromossomo Y de Beethoven, que revelou uma incompatibilidade genética em sua linhagem paterna. Isso indica um “evento de paternidade extraparental”, ou seja, infidelidade, ocorrido entre o século XVI e o nascimento do compositor em 1770.
Tristan Begg, antropólogo biológico da Universidade de Cambridge, destacou: “Esta descoberta sugere um evento de paternidade extraconjugal em sua linha paterna entre a concepção de Hendrik van Beethoven em Kampenhout, Bélgica, por volta de 1572, e a concepção de Ludwig van Beethoven sete gerações depois, em 1770, em Bonn, Alemanha”.
Embora seja irrelevante para a saúde do compositor, essa não deixa de ser uma revelação surpreendente sobre a história de sua família.
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Perguntas sem respostas
Embora o estudo tenha elucidado a causa provável da morte de Beethoven, ele deixou algumas questões abertas. A origem de sua infecção por hepatite B permanece desconhecida, assim como a causa exata de seus problemas gastrointestinais e auditivos.
Krause admitiu: “Não conseguimos encontrar uma causa definitiva para a surdez ou problemas gastrointestinais de Beethoven. No entanto, descobrimos uma série de fatores de risco genéticos significativos para doença hepática. Também encontramos evidências de uma infecção pelo vírus da hepatite B, no máximo, nos meses anteriores à doença final do compositor. Isso provavelmente contribuiu para sua morte.”