Nos últimos anos, a comunidade científica tem observado alterações nos padrões dos ciclones tropicais, também conhecidos como furacões e tufões, em função das mudanças climáticas. Esses fenômenos naturais, já conhecidos por sua força devastadora, estão se tornando cada vez mais intensos e com consequências mais severas, especialmente em áreas densamente povoadas.
Como os ciclones tropicais são formados?
Furacões, tufões e ciclones compartilham um mecanismo de formação comum. Eles surgem a partir de distúrbios atmosféricos, como ondas tropicais, e se formam sobre oceanos com águas quentes.
Para que um ciclone tropical se desenvolva, é necessário que a temperatura da superfície do mar atinja pelo menos 27°C, o que gera umidade suficiente para alimentar os ventos giratórios que caracterizam essas tempestades. Quando as condições atmosféricas se mantêm estáveis e sem grandes variações de vento em diferentes altitudes, o ciclone pode se intensificar.
Nesse sentido, o aumento das temperaturas oceânicas, impulsionado pelo aquecimento global, está diretamente ligado à energia disponível para essas tempestades. Isso resulta em ciclones mais intensos, com ventos mais fortes e maiores volumes de chuva.
Aumento da intensidade e chuvas mais pesadas
Estudos conduzidos por instituições internacionais, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), indicam que embora a frequência total de ciclones tropicais não tenha aumentado ao longo do último século, a proporção dos mais fortes – os classificados como categoria 3 ou superior – está crescendo. Para fins de referência, em tempestades dessa magnitude, os ventos ultrapassam 178 km/h, causando destruição em larga escala.
Além dos ventos, as chuvas associadas a essas tempestades também estão se tornando mais intensas. Dado que a capacidade da atmosfera de reter umidade cresce com o aumento das temperaturas globais, o resultado são precipitações mais intensas durante as tempestades. Um exemplo emblemático foi o furacão Harvey, que em 2017, ficou parado sobre Houston, nos Estados Unidos, por vários dias, despejando mais de um metro de chuva em 72h e causando enchentes históricas.
A influência do nível do mar
Outro fator agravante é o aumento do nível do mar, causado pelo derretimento das geleiras e pela expansão térmica dos oceanos. Com o nível do mar mais alto, as tempestades que atingem regiões costeiras provocam inundações mais severas, pois as marés de tempestade – elevações temporárias do nível do mar causadas pelos ciclones – ocorrem em um ponto de partida já elevado.
Nesse caso, um exemplo claro foi o furacão Katrina, em 2005, cujas inundações foram intensificadas em até 60% devido ao aumento do nível do mar desde o início do século XX.
Acelerando o ciclo de intensificação
A intensificação rápida, segundo o Serviço Nacional de Meteorologia dos EUA, ocorre quando a velocidade dos ventos de um ciclone tropical aumenta em pelo menos 56 km/h (30 nós) em um período de 24 horas. Esse aumento pode fazer com que a tempestade salte de uma categoria 1 para uma categoria 3 na escala Saffir-Simpson, por exemplo.
Acontece que esses eventos têm se tornado mais comuns, especialmente no Atlântico Norte, e causam um risco elevado, pois muitas vezes as autoridades locais têm menos tempo para responder adequadamente às ameaças iminentes.
O furacão Milton, por exemplo, se tornou a terceira tempestade com a intensificação mais rápida já registrada no Atlântico, de acordo com mais de quatro décadas de registros do Centro Nacional de Furacões dos EUA. Seus ventos aumentaram em 144 km/h em menos de 24 horas, quase triplicando o critério para a intensificação rápida.
Como será o futuro?
Embora a previsão exata do impacto futuro das mudanças climáticas nos ciclones tropicais seja complexa, há consenso de que tempestades mais intensas se tornarão mais frequentes. De acordo com o IPCC, à medida que as temperaturas globais continuam a subir, é “muito provável” que os ciclones tropicais futuros tragam ventos mais fortes e chuvas mais intensas. O aumento na intensidade das tempestades pode resultar em um aumento na proporção de ciclones de categoria 4 e 5.
Se o aquecimento global for limitado a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, a porcentagem de ciclones que atingem essas categorias mais altas pode aumentar em 10%. Se as temperaturas subirem 2°C, esse número pode crescer para 13%, e em um cenário de aquecimento de 4°C, até 20% dos ciclones tropicais atingiriam essas intensidades devastadoras.